Blogia
aunqueseaceniza

Esquecimento - 1

eu sei amor       entre nós
houve sempre uma flor de medo.
trazias uma tristeza antiga sobre os ombros
e era difícil construir o poema.

a casa velha da aldeia está desabitada
e foram inúteis as flores
que colocamos nas paredes frias
porém
o sol
nasce
e lentamente morre
todos os dias

(a esperança amor
tem na idade o
tamanho do sol).

eu sei amor      as palavras
adiadas em cada gesto
doem violentamente na memória
mas compreende
não é necessário subirmos ao telhado mais alto
da cidade para vermos horizontalmente
o limite das manhãs.

quando partiste amor       o sangue
jorrou do cálice das papoilas.
fiquei com um navio carregado de palavras
mortas nos lábios e a certeza de nos bolsos
apenas levar os dedos das mãos

(assim como assim creio que até fomos felizes).

 

Pedro Jofre, Domínio Público, París, Farândola, 2000, p. 13.

0 comentarios